Faça uma gentileza a você e ao seu intelecto.






Desligue o televisor!

Faça uma gentileza a você

e ao seu intelecto.



Magnífico o professor Sodré ! Infelizmente, a grande maioria da nossa gente não sabe identificar o que é lixo e o que é útil, por uma grande falha no sistema educacional. Quem só teve enlatados estragados para consumir não sabe apreciar coisa melhor; não pode apurar seu paladar. Assim acontece em relação aos programas de televisão. Além do mercantilismo, existe a falta de criatividade e o total descompromisso com a cultura. Até a nossa música foi banalizada. São sempre os mesmos cantores, os mesmos requebros, os mesmos ritmos, os mesmos chavões... Onde estão Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, João Bosco, Nana Caymmi, Leila Pinheiro, Milton Nascimento, Djavan, Paulinho da Viola, Emílio Santiago? Onde os teatros de Sérgio, de Fernanda? A banalização, a erotização, a baixaria, a violência, a farsa são os ingredientes utilizados sem qualquer escrúpulo, sem respeito, em diversos programas de televisão. “ Show “ ? ? ? O que se pode denominar de Show, de horrores, baixaria, falta de educação, de postura, de nível, algumas modelos semi-analfabetas, dando aulas de erotismo, sexo e droga, enfim, falta tudo na Televisão, sobra mediocridades, com muito poucas e raríssimas exceções, os Telejornais, um flash aqui e ali de alguma coisa que importa, no mais, 92,5% da Programação da TV/Brasileira, é de muito mal gosto, em todos os canais, especialmente naqueles que detém o maior percentual de audiência. Diante disso, e porque todos acham que tudo podem, só nos resta uma escolha: desligar o televisor!


Faça uma grande escolha troque a mediocridade da Programação da TV/brasileira, pelos LIVROS, UMA BOA LEITURA, BONS FILMES, BOA MÚSICA !!! Esta é a escolha correta !!!
Dirlêi Bonfim
REALITY SHOWS Metafísica da imagem e os chavões da decadência
Filipe Ceppas (*)


O que parece ser a decadência da cultura é o seu puro caminhar em direção a si mesma. Um Show de horrores... de MAL GOSTO, aliás de péssimo gosto é tudo de tão mal gosto que nos angustia e nos assusta todo ESSE LIXO CULTURAL... levado a cena cotidianamente na TV/brasileira... é uma TRISTEZA ...


T.W. Adorno
Sartre assim inicia o seu clássico ensaio A imaginação: "Olho esta folha branca posta sobre minha mesa: percebo sua forma, sua cor, sua posição. (...) De nada serve discutir se esta folha se reduz a um conjunto de representações ou se é ou deve ser mais do que isso. O certo é que o branco que constato não pode ser produzido por minha espontaneidade." Para tentar entender o reality show, pode-se iniciar seguindo os passos preliminares da análise sartreana. Você olha para a tela escura da TV, aperta o power e lá estão eles, os participantes dos reality shows. Você não sabe se eles se reduzem a um mero conjunto de representações ou se devem ser mais do que isso.

Tal como os personagens das novelas, eles têm seu comportamento mediado por uma dinâmica que obedece aos índices, espontâneos ou não, de audiência, o que não quer dizer que sejam sempre previsíveis. Mas podemos prever que, entre quatro paredes ou em acampamentos no limite, quanto mais o tempo passa mais e mais cada participante constata na pele que o inferno são os outros. Muitos críticos, por sua vez, acham que o inferno é a fonte de mediocridade que alimenta esse laboratório pseudo-existencialista. O que essa condenação superficial deixa de lado é a simples compreensão do caráter aparentemente supérfluo do acontecimento, enquanto epifenômeno da geração autônoma de novas formas de legitimação de uma ordem social que, paradoxalmente, há muito sequer tem, verdadeiramente, necessidade de ser legitimada.

Foco na cópia da coisa


Em comparação com a folha em branco que Sartre observa, a inércia do reality show, sua dinâmica autônoma e chinfrim, escapa a uma consciência que pretende reconhecer nela apenas a crise pressuposta em tudo o que vê. Sobre a folha já em parte preenchida, Sartre continua a escrever: "É, com efeito, na medida em que são inertes que as coisas escapam ao domínio da consciência; é sua inércia que as salvaguarda e que conserva sua autonomia." O reality show é um experimento humano em que nos deparamos com muita banalidade e mediocridade, é verdade, mas seu sentido inercial global é um pouco mais complexo do que o da folha de papel onde o crítico midiático transforma tudo numa crise que já conhecemos de cor. Para começar, seria preciso desconfiar das reações indignadas à mais recente versão do reality show entre nós, o Big Brother Brasil (BBB),BIG BESTEIROL BRASIL... programa incomensuravelmente agressivo e estúpido que juntamente com outros de pegadinhas e humilhações consentidas, como os de João Kleber (Rede TV) e Sérgio Malandro (Gazeta), ou mesmo tão estúpido quanto Xou da Xuxa , Gugu e Faustão, um verdadeiro time de horrores, é a competição do quanto pior, melhor, para eles é claro, pior para a população cada vez, mais alienada, mais inconsciente e colaborando com este estado deplorável de coisas medíocres. Essa desproporção da crítica fortalece a desconfiança de que a indignação bem pensante faz parte do jogo.

Um crítico, por exemplo, chamou a atenção para o fato de que todos os participantes do BBB, de um modo ou de outro, são profissionais da imagem – como se a homogeneidade artística e corpulenta imposta pela produção do programa reduzisse tudo a uma busca por audiência, o que seria ao menos explícito na Casa dos artistas ou a FAZENDA do SBT. E como se não o fosse, desde sempre, também na Globo. Qual a novidade? Qual propaganda não é, em certa medida, sempre enganosa? Cabe citar Sartre, mais uma vez: "Uma coisa (...) é apreender imediatamente uma imagem como imagem, outra formar pensamentos sobre a natureza das imagens em geral." Para formá-los, e elaborar uma crítica à imagética global, seria preciso "... sujeitar-se rigorosamente a nada avançar a respeito dela que não tivesse sua fonte diretamente numa experiência reflexiva". E, para forçar ainda mais a apropriação da letra sartreana, "é preciso sobretudo que nos desembaracemos do hábito quase invencível de constituir todos os modos de existência segundo o tipo da existência física".
O crítico, em sua defesa pouco refletida, diria que as observações sobre a mediocridade dos seres sarados não revelam preconceito e limitação que imputam fixidez a uma imagem; que tal mediocridade é, antes, inerente ao esforço de bambans e pedritas reais por se apresentarem ao mundo, de modo infantil e iletrado, como imagens à venda, em troca de 500 mil e outros ganhos laterais no universo trash da fama. Mas o que está em questão, além da justificação dos meios pelo prêmio e do próprio prêmio, é precisamente essa estrutura da percepção da imagem como cópia da coisa, ponto de partida para o crítico só enxergar naquilo que critica derivações de um culto à imagem que degenera a sociedade.

Pouco além da pobreza

A metafísica ingênua da imagem consiste, como bem a definiu Sartre, em "fazer da imagem uma cópia da coisa, existindo ela mesma como uma coisa". Ao fazê-lo, logo se lhe acrescenta um estatuto de inferioridade: "... Pelo fato de ser imagem, recebe uma espécie de inferioridade metafísica com relação à coisa que representa. Em uma palavra, a imagem é uma coisa menor." Mesmo que filiados a essa tradição da metafísica ingênua, seríamos obrigados a ponderar que, no mercado, algumas cópias valem mais do que seu "modelo real"; que a imagem da Xaiane-Pedrita vale mais do que qualquer parâmetro de civilidade que a moça pudesse exibir a milhões de telespectadores. Mas isso nós já sabemos muito bem, e o que não pode deixar de escapar a essa abordagem ingênua da imagem-cópia é o que explicaria a ponderação, a total inversão de perspectiva, que o investimento na imagem ajuda a modelar e a esconder: precisamente a determinação de seu reinado desejante como modelo do suposto real.
É sintomático, portanto, que, após meio século de subversão do estatuto epistemológico e ontológico da imagem (onde Sartre, Deleuze e Virilio, por exemplo, se destacam), a crítica midiática, na qual se incluem alguns intelectuais habitués da imprensa, continue, em grande medida, cultuando essa metafísica ingênua. Primeiro sintoma, o da impotência: discurso que pouco esclarece e irrelevante para as decisões das empresas e o gosto do público. Segundo sintoma, o da prepotência: ensaística que não presta contas a ninguém e faz pouco da teoria, em nome do bom entendimento do público, é claro. Terceiro sintoma, o da sujeição, que já Adorno havia muito bem caracterizado em 1949, ao tratar da crítica cultural: "A insuficiência do sujeito que pretende, em sua contingência e limitação, julgar a violência do existente" e que "...torna-se insuportável quando o próprio sujeito é mediado até a sua composição mais íntima pelo conceito ao qual se contrapõe como se fosse independente e soberano".

O surgimento da febre do reality show em todo o mundo traduz um esgotamento das fórmulas televisivas tradicionais na busca por audiência, mesmo aquelas que, segundo critérios cultos ou pseudo-acadêmicos, cairiam sob a qualificação de "baixo nível". É grande a tendência a aceitar, aqui, explicações psicológicas secundárias. Mas assim como estas não dão conta do estatuto sempre problemático da ficção, elas têm igualmente limites no que se refere ao consumo de massa das narrativas e interações midiáticas. Constata-se, por exemplo, que o desejo de ver as coisas levadas ao extremo, em contexto onde, supostamente, a intimidade dos outros está em questão, deve se contentar com muito menos. Ora, a descrição-explicação desse desejo, de sua realização e suas frustrações, no consumo pseudo-interativo do show midiático, será forçosamente uma parte menos escandalosa da explicação para o porquê de a mesma tendência se impor em todo lugar. Seja no esporte ou na política, a pureza na liberação da adrenalina é a simulação do irremediável: quando, no body jump, o corpo encena seu esborrachamento final, ou quando, na política, a explicitação da violência vem bagunçar nossa percepção distanciada e conformista.

Assim, a potência da explicação psicossocial do reality show está na sua impotência, isto é, ao revelar o que resta para ser explicado. Com relação à expectativa do confronto, podemos entender por que, seja o que for que tenha a ver com tipos psicológicos de um contexto cultural qualquer, nada de importante aí apareça. Que o "barraco" nos programas brasileiros, por exemplo, não chegue a níveis intoleráveis e antes desmorone em meio a uma tempestade de banalidades significa simplesmente que os produtores armam, de antemão, uma miríade de pequenas regras para evitar o pior, que os participantes já as têm introjetadas, ou ambos. Mas a aceitação da banalidade e da monotonia, por parte do público, pode ser parcialmente explicada por um mecanismo de reforçamento da ideologia do brasileiro no fundo sempre boa praça, cuja negação evidente é reforçada pelo sadismo da própria expectativa dos telespectadores, satisfeita quando vêem os participantes numa situação constrangedora e humilhante – realidade dolorosa que estes mal conseguem disfarçar: a consciência contratual estampada na conduta profissional que a artificialidade do comportamento aparentemente despojado revela. Por tudo isso, antes de culpar os participantes pelo vocabulário empobrecido para lidar com tal situação, o crítico deve reconhecer que não vai muito além com seus chavões da decadência.


Páginas que valem milhões

Prato cheio para análises psicológicas de segunda categoria sobre o voyeurismo amador, a monotonia do reality show é uma oportunidade única para a crítica cultural poder justificar seu voyeurismo profissional, ou seu distanciamento bem comportado a tudo que seja "de baixo nível". Se ela quer, muito sinceramente, elucidar e ajudar a superar o parasitismo cultural daquilo que alimenta a mediocridade e dela sobrevive, poderia começar por desarmar as falsas polêmicas, que são a condição necessária desses programas "de realidade".

Enquanto crítica imanente não-dialética, ela permanece presa aos limites que Adorno já havia denunciado. Mesmo sob perspectivas mais radicais – na subversão da linguagem, na desmistificação do modelo imagem-cópia e de seu reinado, assim como na exigência do conceito –, todos nós, produtores, consumidores ou comentaristas culturais, somos coadjuvantes, ainda que residuais, críticos e de elite, do reality show midiático total. Melhor faria uma análise pós-moderna, que tentasse identificar virtudes insuspeitas no aparecimento dessas gaiolas humanas televisionadas, do que a crítica ranzinza tradicional, que não consegue reconhecer a precariedade de sua sempre idêntica identificação do mesmo.

Exemplo: em praticamente todas as abordagens jornalísticas sobre os reality shows, mal se disfarça o pressuposto de que haveria um modo "correto" de realizá-los. Aqui, a obtusidade da distinção entre aparência (cópia) e realidade (modelo ideal) é tamanha que a óbvia inadequação da premissa grita histericamente diante do nariz, mas o comentarista prefere arrancar seus próprios olhos para expiar a quase-cópula pecaminosa transmitida ao vivo entre um bambam e uma pedrita quaisquer. Onde, afinal, os comentaristas encontram evidências para supor que um programa da TV brasileira pudesse ser realmente desafiador, com pessoas heterogêneas e críticas podendo falar e fazer o que quisessem, diante das câmeras, sem censura, 24 horas por dia?! De onde vem a idéia de que, ao entrar num reality show, uma pessoa pode permanecer sendo uma pessoa, sem tornar-se, imediatamente, profissional da imagem, sob o risco de romper com a própria lógica do entretenimento? No limite, poderíamos imaginar uma "casa dos políticos", com FHC, Lula, Jáder e ACM, sem esquecer as popuzudas e tchutchucas (Marta Suplicy? Roseana Sarney? Benedita?), brigando pelo poder de decidir sobre a ordem da casa. E precisa? Não é a esse reality show precário que grande parte do jornalismo impresso e televisivo, se não a própria postura da maioria dos políticos, dia após dia, procura reduzir a vida pública nacional?

Haveria que se falar, sim, em culto à imagem, mas para além da óbvia constatação do padrão que as emissoras tendem a impor na escolha dos participantes. Não é irrelevante que, no BBB, os primeiros a serem eliminados do programa tenham sido os que mais se aproximam do modelo "culto à imagem". Se o fato não deve levar a qualquer conclusão apressada sobre os atributos intelectuais e afetivos (ou sua ausência) dos cultuadores da imagem, serve ao menos para demonstrar a precariedade da crítica genérica da degeneração. Para não dever nada a uma metafísica ingênua da imagem, mais valeria reconhecer que a imagem que de fato vale é a da propaganda: 200 milhões de reais faturados até agora com os reality shows no Brasil, "o suficiente para a construção de 200 escolas, 20 hospitais de 150 leitos ou 250 creches...", segundo os cálculos de Luiz Costa Pereira Júnior, da Folha de S.Paulo (16/2/02). Para os patrocinadores, que um comentarista ignore o fato e gaste, sem investimento adicional, meia página de um jornal para criticar o caráter regressivo dos participantes, ou mesmo o formato global do show, é, no dialeto dos big brothers, tudo de bom.


(*) Professor de Filosofia, com mestrado pela PUC-Rio, e doutorando em Educação pela mesma universidade; e-mail: fceppas@terra.com.br
REALITY SHOWS Ser ou não ser um voyeur
Marcio Santim (*)

Nãoacaso que os reality shows (espetáculos da realidade) são cada vez mais consumidos pela sociedade ocidental. Há um complexo processo psicossocial que propicia aos telespectadores o interesse por esses programas. Não seria possível neste artigo adentrar uma discussão minuciosa sobre o assunto, mas sim listar alguns apontamentos que poderão ser úteis ao esclarecimento de questões pertinentes ao tema.

Primeiramente cabe frisar que o interesse pelo conhecimento da intimidade de celebridades não é apenas um modismo – temos, faz algum tempo, revistas especializadas nesse tipo de assunto cujo mercado tem crescido significativamente nos últimos anos, tais como Caras, Quem, IstoÉ Gente etc. Aliás, o nome desta última é muito sugestivo e mostra explicitamente a concepção bestial acerca das pessoas comuns, pois se apenas as celebridades presentes na publicação são consideradas "gente", o que seriam os demais meros mortais?

O programa Casa dos Artistas pode ser considerado a versão televisiva dessas revistas, pois além dos recursos técnicos constitutivos deste meio de comunicação, possui algumas nuanças na forma de produção. Por exemplo: no programa, os convidados estão, a princípio, num ambiente estranho, convivendo com pessoas que não fazem parte do seu círculo familiar ou de amigos; enquanto nas revistas aparecem retratados em suas próprias residências, ou viagens, freqüentemente em companhia de pessoas próximas.

De outra parte, a constituição do programa Big Brother, por se tratar da participação de pessoas que não são celebridades, aproxima-se mais daqueles sites da internet em que câmeras instaladas na casa de pessoas comuns permanecem filmando 24 horas por dia suas atividades.

Penso que este é o fator crucial da vitória nos índices de audiência do SBT sobre a Globo. A participação de celebridades faz a diferença. Por quê?
Porque esses ídolos são tidos como os deuses da nossa época. Hoje, esses deuses não são mais como na mitologia antiga, representados na imaginação através de mitos ou de colossos, nem ideais inatingíveis. Pelo contrário, desceram do Olimpo para ocupar um trono chamado mídia. É imprescindível para a sobrevivência dos ideais e valores do sistema capitalista que as celebridades os materializem seduzindo o imaginário das massas para uma identificação desprovida de razão.

Poucos contrapontos

A infantilização do psiquismo e a irracionalidade assumiram proporções astronômicas, pois grande parte das pessoas acredita que o comportamento apresentado pelo participante do programa revela como ele realmente é no seu dia-a-dia, na sua intimidade. Com olhar mais atento e crítico advirá a constatação que o mundo dos reality shows não passa de uma encenação, um programa editado e um jogo onde todos querem triunfar. Seu mundo é uma ilusão e sua realidade, forjada.

As formas de gozo psíquico nos dias de hoje revelam um caráter infantil. Observa-se uma regressão a fases arcaicas do desenvolvimento psíquico.
Mesmo que muitos saibam da artificialidade de tudo o que se passa atrás das portas, o desejo do público de espiar pelo buraco da fechadura constatado pela grande audiência de programas desse tipo é um dos elementos que confirma o regresso na busca de prazeres pueris.

Cumpre fazer, neste ponto, uma rápida distinção entre o voyeurismo que vamos chamar de "clássico" e a variante que hoje temos, a que chamarei "voyeurismo social". Na psicopatologia, o voyeurismo é classificado como uma parafilia (perversão) cuja característica essencial é a observação de pessoas se despindo ou tendo relacionamento sexual. Apenas o olhar, sem qualquer contato físico com o "objeto", torna-se o ponto culminante do prazer voyeurista. É controverso se, para caracterizar esta forma de voyeurismo, a pessoa objeto dos investimentos libidinais deve saber ou não que está sendo observada. Pelo que noto existem os dois casos, pois o exibicionismo (outra forma de parafilia) já existia e, assim como sadismo e masoquismo se entrelaçam, exibicionismo e voyeurismo complementam-se propiciando satisfação recíproca dos desejos. Se, em outras épocas, o voyeurista e o exibicionista tinham que se desdobrar para obter prazer em razão da sociedade ser mais repressora, atualmente ambas as tendências psicológicas contam com o total consentimento social.

Penso que é suficiente citar como indicativos desta nova constelação social os filmes pornográficos, os programas Big Brother e Casa dos Artistas, a revista Caras – todas produções que movimentam milhões no mercado do entretenimento. O abrandamento e a liberação social com relação à erotização dos produtos veiculados pela mídia contribuíram de forma contundente para a ascensão desta nova forma de voyeurismo chamado "social" – na qual, tal como no clássico, o desejo de ter supera o próprio ter.
Neste novo tipo não existe a primeira possibilidade, a de ver sem que alguém esteja de alguma forma se exibindo. A invasão da intimidade não causa culpa no observador, por ser consentida e lucrativa para aquele que se expõe. Além do prazer psíquico, o ganho é também é de ordem financeira.

Hoje é muito mais cômodo para a satisfação do desejo voyeurista ligar a TV e, no grande leque disponível, escolher algum dos diversos programas que exibem pessoas se despindo ou com o mínimo de roupa possível. Também é mais prático acessar os inúmeros sites do gênero na internet do que gastar dinheiro comprando uma luneta e passar horas na janela do tentando ver alguém tirar a roupa ou mantendo relacionamento sexual. Aliás, expor o corpo numa tonalidade erótica banalizada é o que participantes de Big Brother, Casa dos Artistas e de grande parte dos programas televisivos costumam fazer.
Não quero fazer um diagnóstico clínico, no sentido de que qualquer indivíduo consumidor desses produtos seja um voyeurista. Estou fazendo uma análise social e, portanto, mencionar que existe uma forte tendência do ocidente ao voyeurismo não significa que dou este rótulo a todos os indivíduos envolvidos. São coisas bem diferentes. Com certeza essa tendência social tem reflexos sobre a individualidade e cabe a nós, psicólogos, perguntar sobre quais são esses reflexos. A mídia está explorando ao máximo essa tendência, e nela se encontram pouquíssimos contrapontos que favoreçam uma reflexão crítica acerca dos reality shows. Com certeza não foi somente a mídia que criou esse interesse pela incursão na esfera da privacidade, mas ela o alimenta, o faz proliferar e o utiliza como meio de obtenção de lucros.

Falta de diálogo familiar, solidão, isolamento social devido em parte a violência urbana, doenças sexualmente transmissíveis e falta de interação social também devem ser considerados na compreensão do voyeurismo social em que o virtual prevalece sobre o real.

(*) Psicólogo, mestre em Psicologia Social pela PUC de São Paulo.

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