A dicotomia entre o ser x ter

A dicotomia entre o ser x ter
“ o homem é a medida de todas as coisas”... (Sócrates).*

Considerando-se as condições das sociedades de consumo dirigido, não se pode escapar dos promotores de tais sociedades, fato este, que nos integra num circuito elaborado a nossa revelia. A situação de dominação implícita nesse processo é evidente. O indivíduo desumaniza-se aos olhos de tais promotores e passa a ser visto como entidade econômica, consumidor potencial, cujo poder aquisitivo que o circunda permite-lhe possuir produtos aos quais se habitue e sem os quais não possa sobreviver, uma vez que está literalmente viciado no consumo de mercadorias que o dopam.
Com essa dopagem dilui-se o discernimento, a escolha e a faculdade do livre arbítrio; deste modo, a dominação do espírito humano pretendida pelo discurso-mercadoria serve à ordem dominante, seja ela de que natureza for.
Bombardeados a todo instante por apelos ao consumo, conseqüentemente, somos consumidos pelo desejo de consumir. Persuadidos, já não fazemos uso da faculdade da razão, nos deixando levar por meros anseios. Manipulada nossa vontade, concretizamos nossos sonhos em imagens que nos parecem tão verdadeiras!...
Possuir passa a ser sinônimo de alcançar a felicidade: artefatos e produtos proporcionam o bem-estar do homem, mas, não a felicidade, a felicidade implica em satisfação de outras necessidades, que extrapolam a dialética materialística, envolve outro estado de espírito que envolve necessariamente outros valores. Quais sejam, voltados à virtudes humanas, tais como : honestidade, sinceridade, solidariedade, generosidade, simplicidade, bondade, tranqüilidade, compreensão, amizade, justiça, lealdade, companheirismo... que são muito mais de cunho espiritual e que podem representar um outro tipo ou forma de bem estar e felicidade. Não somos capazes de vislumbrar que sem a auréola que a publicidade lhes confere, seriam apenas bens de consumo; mas mistificados, personalizados, adquirem atributos da condição humana.
Atingindo indivíduos de toda e qualquer classe social, através dos veículos de comunicação de massa, sérias conseqüências são caudadas em nosso modo de pensar e agir tornando-nos alienados, fora de nossa própria realidade, transformando indivíduos em não indivíduos, sem nenhuma consciência crítica, em simples massa de manobra, um batalhão de alienados.
Atuar com discernimento e solidariedade nas situações de consumo e de trabalho, cientes de nossos direitos e responsabilidades, identificando problemas e debatendo coletivamente possíveis soluções; deveriam ser propostas amplamente difundidas no intuito de mudar essa realidade que nos circunda. É preciso, pois, perceber essa situação. Consumir não é um mal em si mesmo. O mal está em sermos usados pelo consumismo. Antes que nos esqueçamos, de que somos gente e de que precisamos de saúde mais do que de dinheiro; de carinho mais do que de sucesso; e de amizade e compreensão muito mais do que de consumir; ou, então, nos perderemos em meio à ilusão de ter e nos esqueceremos de ser.


Portanto, “ a felicidade não está necessariamente no ter, mas no ser. Muitos têm tudo mas, não são felizes, tornam-se escravos daquilo que possuem e perdem as principais virtudes que todos devemos ter”.
“o sol não espera que lhe supliquem derramar a sua luz e o seu calor. Assim, faze o bem que puderes, sem aguardar que te implorem “.
O ser é a base. É onde ficam o país, o estado, a cidade, o bairro, a casa onde você nasceu, o tipo de família que lhe trouxe ao mundo, com raça, origem e categoria social e formou a sua educação, seja doméstica, formal pela escola, professores e colegas, informal ou social e no que o espelho e a sua consciência revelam e se aceita com ou sem questionamentos.
O ter é aquilo que se agregou a você, sejam bens materiais ou a bagagem cultural, intelectual ou científica desenvolvida, a partir dos valores que acredita positivos para a sua existência. O ter é o que você não tinha e acredita possuir, como se seu fosse ou seu é, sendo, mas, que você precisa aprender a discernir muito bem, o que é SER e o TER.
O problema é que, entre o ser e o ter, existe o parecer. Algumas pessoas querem parecer o que não são e o que não têm. É o mundo da aparência, do supérfluo em que uma camisa ou um vestido, por exemplo, é aceita não por sua qualidade intrínseca, mas por ostentar uma marca de alta significação para a imagem de quem usa. Um relógio, dando outro exemplo, deveria servir apenas para ler as horas, mas pode definir uma posição social de quem, diferencialmente, ostenta uma marca famosa. Falo em objetos para não trafegar na senda perigosa da essência, pois aí o terreno é movediço.
A sociedade e, por mais que não queiramos estamos nela envolvidos, cobra o ser, o ter e o parecer. O parecer é o reflexo, a imagem que os outros têm de nós, a partir de juízos de valor falsos ou verdadeiros. É aquilo que pode ser fabricado com “marketing pessoal”e o sair de casa, para mostrar-se ou ser visto, compensa o vazio de não poder ficar consigo mesmo e gostar disso. Algumas pessoas se acreditam ser o que os outros pensam ou dizem delas. Essas pessoas, certamente, ficam à cata do que se chama de validação.A validação é acreditar no que o outro diz para admitir-se ser aquilo. Não pesa, para o validado, a referência própria, aquilo que a sua essência profunda diz, mas o que lhe é soprado ou gritado em seu ouvido ou escrito a seu respeito.
Esse eterno questionamento entre o ser, o ter e o parecer passa, talvez necessariamente, pela maior ou menor capacidade de cada um se auto-avaliar e ver a auto-estima a partir da própria consciência. Mas, descubro ter começado um assunto que não cabe em crônica. Bem apropriado seria em ensaio ou tese para os quais, infelizmente, faltam-me engenho, densidade e tempo. Como disse Chamfort: “há tolices bem vestidas como há tolos bem vestidos”.
Não se pode negar, contudo, uma constante inversão de valores em nossa sociedade, que cada vez mais prima pelo individualismo egoísta, relegando a pessoa humana a um plano secundário, voltada mais para a produção de bens de consumo, os quais são produzidos a baixo custo, pela desvalorização do elemento humano no trabalho, e ofertados com intensa propaganda imbuída de ideologias de classes dominantes, levando a crer que o bem estar material é tudo o que se almeja e pode ser alcançado ao longo de uma existência.

**pesquisa realizada pelo Prof. Dirlêi A Bonfim, Prof. MSc. Benedito Generoso da Costa., Prof. Esp. João Soares Neto e Profa. MSc. Fac. Filosofia, Letras e Ciências Sociais/UFMG.*05/2005* Patrícia Ferreira Bianchini Borges.*



Deste modo, a sociedade se torna um conjunto de indivíduos justapostos uns ao lado dos outros, mas sem laços e compromissos recíprocos, cada qual objetivando suplantar o próximo para fazer valer seus interesses pessoais egoísticos, porquanto a mentalidade prevalecente é a de que o valor do indivíduo está no ter sempre mais e, assim sendo, urge vencer a qualquer preço, ainda que este custe uma vida humana. Numa sociedade forjada nesta mentalidade, o Estado acaba por ser instrumentalizado a favor das elites e passa a deter poderes para dispor da vida dos indefesos – Estado instituído para protegê-los – desde a criança ainda não nascida até ao frágil idoso, tudo em nome da modernidade e do progresso econômico e social, quando na verdade está cumprindo um papel subserviente a serviço de uns poucos privilegiados. Neste contexto, não é de estranhar que a vida humana passa a ter pouco valor, ou é considerada como mais um bem do qual se pode dispor a bel prazer, não passando de uma mera coisa negociável, que o indivíduo reivindica como sua propriedade exclusiva e que pode plenamente dominar e manipular à vontade. Por estar imerso num turbilhão de informações e de afirmações as mais extravagantes e contraditórias, o homem fica confuso, sem saber a quem dar ouvidos, e esta incerteza o torna não raro mero espectador dos fatos e, mais que isso, presa fácil dos manipuladores da consciência e conduta alheias, ignorando que em sua própria omissão é ele também o responsável por esse estado caótico.
Deste quadro turbulento, emerge um ser humano angustiado, sentindo-se impotente diante da situação com a qual se depara e não concorda, por ser contrária às suas aspirações vitais, mas que lhe parece lógica, já que não raro tem o respaldo do sistema legal vigente.
Num contexto social desta natureza entende-se perfeitamente, embora nada o justifique, o porquê, sendo a vida um bem de valor incalculável, sofre ela ameaças de toda sorte, e que acabam-se concretizando de várias formas, uma vez que o homem moderno muitas vezes se depara com situações dramáticas que o empurram para um dilema em que as escolhas se dão em prol de interesses imediatos e puramente materiais.
Sob esse enfoque, é compreensível, embora nada possa justificar, porque o valor da vida acaba em parte sendo ofuscado em nome de outros interesses de cunho duvidoso, tal como uma liberdade individual ilimitada e sem precedentes, desviando-se as atenções do fato de estar em jogo o direito à existência de um ser humano, idolatrando-se o ter sempre mais em detrimento da realização deste como pessoa.
Vislumbra-se na cultura democrática moderna a opinião amplamente generalizada, segundo a qual o ordenamento jurídico haveria de limitar-se a registrar e acolher as convicções pessoais e as convenções sociais, por mais esdrúxulas que sejam, reconhecendo que, dentre todos os direitos assegurados pelo sistema, também o direito de eliminar a vida imprestável aos interesses consumistas da sociedade deve ser reconhecido democraticamente pelo Estado.
Tudo isso, entretanto, costuma ocorrer dissimuladamente, aparentando o maior respeito pela legalidade, ao menos quando as leis legitimadoras dos atentados contra a vida são votadas segundo os princípios democráticos, como, aliás, é a praxe, porém tudo não passa de mera aparência de legitimidade, enquanto que o ideal democrático e o Estado de Direito vão sendo, aos poucos, solapados nas próprias bases.


Animador, entretanto, é constatar que diante das ousadas legislações permissivas à eliminação de vidas consideradas inúteis ou imprestáveis, surgiram no mundo todo movimentos e iniciativas de sensibilização social em prol da dignidade e respeito humanos que, agindo com firmeza e sem recorrer à violência, vêm despertando uma tomada de consciência com decisivo empenho em defesa da vida.
A vida é sempre um bem, o que se constata até intuitivamente como que um dado positivo da experiência, cuja razão profunda está na própria natureza do ser humano, fazendo-se mister uma profunda reflexão sobre esse direito superior, concomitantemente com um sério questionamento da atual mentalidade anti-vida, resultando numa nova e salutar tomada de consciência, individual e coletiva, capaz de recolocar a vida e o direito a ela inerente, num patamar inatingível por quaisquer formas de ameaças.
O nosso corre-corre não nos deixa parar para perceber se o que já temos já não é o suficiente para nossa vida.
Nos preocupamos tanto em TER.
Ter isso, ter aquilo, comprar isso, comprar aquilo
Os anos passam, e quando nos damos conta, esquecemos do mais importante :
Viver e ser feliz .
“ o meu coração me diz, fundamental é ser FELIZ ”. (G.Azevedo).
Às vezes, para ser feliz, não precisamos de tanto TER.
Podemos nos dar conta que o mais importante na vida é SER.
Esse ser, tão esquecido, muitas vezes não é difícil de se realizar.
As pessoas precisam parar de correr atrás do TER e começar a correr atrás do SER:
Ser amado,
Ser gente...
Tenho certeza de que, quando SOMOS, somos muito mais felizes do que quando TEMOS.
O SER leva uma vida toda para se conseguir, e o TER, muitas vezes conseguimos logo.
Só que o SER não acaba e nem se perde, mas o TER pode terminar inesperadamente.
O SER, uma vez conseguido, é eterno e o TER é passageiro e, mesmo que dure muito tempo, pode não trazer a FELICIDADE.
Tente SER e não TER e você sentirá uma felicidade sem preço!
Ser feliz!

Pesquisa realizada do Prof. Dirlêi A Bonfim, Prof. MSc. Benedito Generoso da Costa., Prof. Esp. João Soares Neto e Profa. MSc. Fac. Filosofia, Letras e Ciências Sociais/UFMG.*05/2005* Patrícia Ferreira Bianchini Borges.*

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